sábado, 31 de maio de 2008

Jornalista coloca em debate a ética e a falta de apuração no jornalismo online

Li no Comunique-se uma coluna do jornalista Milton Coelho da Graça e achei interessante postá-la já que ela proporciona um debate sobre a ética no jornalismo online. Publiquei o texto para facilitar nosso entendimento.

Ao longo da coluna, Milton dita algumas regras que os jornalistas da web devem seguir. Eu destacaria duas: "Nada de plágio" e "Verifique, verifique, antes de publicar". Será que essas normas de fato são sempre levadas a sério no jornalismo online?

Para facilitar o debate, gostaria de publicar uma matéria que saiu também no Comunique-se , com o título "TV dá barriga e sites repercurtem sem checar" (também postei abaixo).

A matéria cita o caso em que a Globonews noticiou o incêndio que atingiu um prédio em Moema, na zona Sul de São Paulo, no dia 20 de maio, provocado, segundo o canal de TV, pelo choque de um avião com o edifício. No entanto, a informação de que a causa do incêndio foi o choque com o avião estava errada. Mas, a matéria já estava em diversos sites: “Avião atinge prédio em São Paulo” era uma das manchetes do Globo Online e “Avião da Pantanal cai na zona sul de São Paulo” era o título da matéria do UOL.

A matéria é muito interessante porque traz a crítica de alguns jornalistas sobre a falta de apuração no jornalismo online.

E a turma, o que pena a respeito?

Abaixo, segue a coluna do Milton Coelho da Graça:

Estamos bem na Rede em matéria de ética?

Milton Coelho da Graça (*)

Para On Journalism Review, revista online da Annenberg School of Journalism, Califórnia do Sul, EUA, a ética do jornalismo online não é diferente das normas estabelecidas para o jornalismo em geral. Mas destaca alguns pontos essenciais para o trabalho na Rede. Esta não é uma tradução literal, mas um resumo suficiente para permitir que cada leitor faça sua avaliação de como andam nossos sites e blogs em termos de ética. O texto original está no site www.ojr.org/ojr/wiki/ethics.

Nada de plágio

Não roube trabalho dos outros. Se você quer se referir a trabalho alheio explicite isso claramente (como estou fazendo neste artigo). E isso vale para texto, fotos, gráficos etc.

Nada esconda, conte tudo

Diga a seus leitores como você obteve a informação e por que resolveu também publicá-la (neste caso, é óbvio, não?). Não esconda para quem você trabalha ou de onde vem o dinheiro que sustenta seu site (os anúncios do Comunique-se explicam tudo).

Nada de grana nem presentes

Tem cheiro de “arranjo” aceitar dinheiro, pagamentos ou honrarias de pessoas ou grupos sobre os quais você escreve. Diga um discreto “não” quando alguém aparecer com essas tentações nem correte anúncios ou patrocínios de empresas que anunciem nos veículos em que você escreve. Algumas empresas de comunicação permitem que seus redatores aceitem ingressos grátis para peças, filmes etc. sobre os quais irão escrever. Mas a maioria delas não aceita ofertas de viagens e hospedagem gratuitas. Muitas editoras e gravadoras enviam e cedem livros e DVDs, que devem ser devolvidos depois das críticas e análises serem publicadas. Quando o valor for pequeno, livros e outros itens de menor valor devem ser doados a escolas ou instituições de caridade.

Verifique, verifique, antes de publicar

Só porque alguém disse alguma coisa não significa que se trate de um fato, uma verdade. Sempre verifique com cuidado qualquer informação recebida. Corra atrás dos fatos, não apenas opiniões. Se você está escrevendo sobre alguém, peça-lhe, antes de publicar, um comentário, por telefone ou e-mail. Se essa pessoa tem um blog, faça um link. Isto a avisará de que você escreveu algo sobre ela. E os leitores podem clicar e saber os dois lados da matéria.
Se o texto for satírico ou brincadeirinha, deixe isso claro para os leitores. Tapear leitores não ajuda a desenvolver a credibilidade e a lealdade que jornalistas esperam merecer deles.

Seja honesto

Resumindo, seja honesto e transparente. Responda todas as dúvidas antes que seus leitores as tenham. E acima de tudo: não use o poder da imprensa para obter ganhos pessoais ou simplesmente encher o saco alheio.





TV dá barriga e sites repercutem sem checar

Da Redação

O incêndio que atingiu na tarde da terça-feira (20/05) um prédio localizado em Moema, na zona sul de São Paulo, foi manchete, por alguns minutos, dos principais sites de notícia do País. O problema é que, na pressa para informar seus leitores, alguns veículos online se basearam em informação da Globo News de que um avião havia se chocado com o prédio e não tiveram o cuidado de checar.

“Avião atinge prédio em São Paulo” era uma das manchetes do Globo Online. Ao perceber o erro, minutos depois, o título mudou para "Incêndio atinge prédio em São Paulo". O UOL já foi mais categórico: “Avião da Pantanal cai na zona sul de São Paulo”.

A ombudsman do Portal, Tereza Rangel, não perdeu tempo. Lamentou que mal estreou a nova central de jornalismo e já caiu na tentação de copiar informação da TV.

“A ‘informação’ estava errada. Quando percebeu o erro, o UOL mudou o texto (sem alterar o horário), tirou o assunto da manchete e simplesmente adotou a fórmula "a informação inicial era de que um avião da Pantanal teria se chocado contra um prédio residencial, mas ela foi desmentida minutos depois pela Infraero, pelos Bombeiros e pela própria companhia". A ressalva não pode servir de desculpa para que não seja feita uma errata, até porque o título do texto afirmava, categoricamente, que o avião caíra. Se o UOL levou a ‘notícia’ à sua manchete é porque precipitou-se e, sem apuração própria, comprou a versão da TV, disseminando entre os internautas que houvera um acidente inexistente. A prática de cozinhar e assumir informações (certas ou erradas) da TV e rádio é comum em portais da Internet, mas não deveria ser adotada pelo UOL”.

Em resposta, o gerente de notícias do UOL, Rodrigo Flores, prometeu fazer uma errata.

Mario Vitor Santos, ombudsman do iG, também não deixou passar o erro. "O iG acaba de anunciar erradamente a queda de um avião em bairro residencial de São Paulo. A notícia ('Avião cai em bairro residencial de São Paulo') não se confirmou. O texto era lido a partir da manchete da capa do iG. Foi colocado como um link da manchete que anunciava um incêndio na capital. Minutos depois da notícia errada do desastre, mais grave ainda numa cidade já traumatizada por acidentes desse tipo nas imediações do aeroporto de Congonhas, a notícia foi retirada do ar. A manchete passou a anunciar um incêndio numa fábrica de colchões. O iG precipitou-se e errou. Deve ter confiado em quem não deveria. Atribuiu o erro à Infraero. Certamente não verificou a informação antes de levá-la ao ar. Precisa avaliar isso, e corrigir com o mesmo destaque dado ao falso acidente de avião. Além disso, precisa agora acompanhar correta e cautelosamente o incêndio que de fato parece ter existido".

A assessoria de imprensa da Infraero disse ao Comunique-se que em nenhum momento confirmou a notícia de queda de um avião.

A Central Globo de Comunicação informou em comunicado: “A respeito do incêndio ocorrido hoje à tarde em São Paulo, a Globo News, como um canal de noticias 24 horas, pôs no ar imagens do fogo assim que as captou. Como é normal em canais de notícias, apurou as informações simultaneamente à transmissão das imagens. A primeira informação sobre a causa do incêndio recebida pela Globo News foi a de que um avião teria se chocado com um prédio na região do Campo Belo, Zona Sul de São Paulo. Naquele momento bombeiros e Infraero ainda não tinham informação sobre o ocorrido. As equipes da própria Globo News constataram que não havia ocorrido queda de avião e desde então esclareceu que se tratava de um incêndio em um prédio comercial. Poucos minutos depois o Corpo de Bombeiros confirmou tratar-se de um incêndio em uma loja de colchões”.

Um comentário:

Rodrigo Cherem disse...

Post muito bom e muito oportuno para a discussão do JORNALISMO NA WEB.

Em uma época de dificulade na busca por padrões e referências seguras para a prática do bom jornalismo, um artigo que aborde a discussão da ética é quase como um manual!

Concordo com a idéia de que ainda devemos respeitar as mesmas interdições do jornalismo impresso no online.

Pelo menos, até que se prove o contrário!

Cherem